ZINES E QUÍMICA
ZINE-SE VOCÊ TAMBÉM GÁS NOBRE!!!
Fan) Zines: um jeito de se
comunicar
Texto:Marina Cavalcante // Arte: Zine 'Azul é a cor mais bad', Dora
Leroy
O que são
Liberdade,
underground, ligado a movimentos sociais, artes, música, cinema, quadrinhos,
ficção científica, ilustração, poesia. Muita coisa cabe num fanzine, ou zine,
numa linguagem mais atual e pop. Não é um livro, não é uma revista, não é
literatura de cordel e pode ser tudo isso ao mesmo tempo.
Zine é
uma publicação impressa independente, de pequena escala, geralmente produzida
por um só autor, autora ou pequeno grupo de pessoas. O objetivo dos zines não é
obter lucro com sua venda e distribuição, e sim “espalhar a palavra” de suas e
seus autores. Zine é expressão, que pode vir em forma de texto, de imagem e de
uma combinação de ambos.
O
idealizador ou idealizadora de um zine tem a liberdade de adaptá-lo às suas
próprias condições e intenções. Número de páginas, conteúdo, formato da
publicação e periodicidade da mesma são fatores que não determinam a qualidade
de um zine, e sim fazem parte das características de cada um. Através dessa
forma de publicação, testar e tentar diversas formas de expressão é mais
possível do que em revistas comerciais, por exemplo.
Como se chama mesmo?
A palavra
fanzine vem da junção de outras duas, em inglês: “fanatic” (fã) e
“magazine” (revista). Revista de fã, foi dessa forma que os fanzines
surgiram em meados dos anos 1930, sendo inicialmente produzidos por pessoas
fora do meio profissional de publicação, aficcionadas por um determinado
assunto, em especial pela ficção científica e literatura fantástica.
Hoje em
dia o termo zine é mais utilizado que o fanzine, mais ligado à
essa ideia de fanatismo. Para Laíza Felix, jornalista, moderadora do projeto
Leia Mulheres em João Pessoa e colecionadora desse formato de publicação, “o
zine é tão livre que ora chamo O zine, ora A zine, então até o gênero da
palavra muda pra mim. Acredito que na verdade hoje ele é menos ligado ao
suporte físico e mais à ideia da mídia independente: pessoas falando o que
querem e como querem”.
Zines e os movimentos sociais
Por ser
uma publicação independente e de baixo custo, movimentos de contracultura como
o punk, no fim dos anos 1970 nos Estados Unidos e Inglaterra, utilizaram os
zines como ferramenta de comunicação e resistência. O movimento punk,
inclusive, adotou os zines de forma a ter uma expressão específica para eles,
os punk zines ou punkzine, assim juntinho, com conteúdo ligado à
literatura e música punk e críticas sociais que instigavam a liberdade
individual e o anti-autoritarismo.
A
contracultura, para quem não lembra, foi um grande movimento de contestação e
descontentamento social e cultural, que teve início lá nos anos 1960 e 1970 com
significante participação dos jovens da época. Liberdade amorosa e sexual, fim
das guerras e conflitos mundiais, confronto com o capitalismo e críticas à
televisão, principal meio de comunicação de massa do período, eram assuntos
pautados pela contracultura, que se desenvolveu de diferentes formas em várias
partes do mundo.
Outro
movimento importante de ser citado e que utilizou os zines como meio de
comunicação e diálogo foi o Riot Grrrl. Nos Estados Unidos dos anos 1990,
mulheres punk, feministas e ligadas à música (lembram de Joan Jett e The
Runaways?) lutavam, através de suas composições e existência, pelo poder
feminino. As Riot Grrrls também utilizaram dos fanzines para promover opiniões
contra o sexismo e compartilhar experiências pessoais relacionadas à violência
contra a mulher. É preciso ressaltar que o Riot Grrrl já foi criticado por
privilegiar mulheres brancas e da classe média estadunidense, se resumindo à
uma parcela da população feminina e fechando o diálogo de suas lutas às
mulheres negras, por exemplo.
Interessante
perceber a relação direta que os fanzines tiveram ao longo do tempo com
movimentos musicais e políticos que gritavam por um determinado tipo de
liberdade. O movimento punk e as Riot Grrrls encontraram nos zines um
instrumento de divulgação, sem censura, de suas ideias.
Faça você mesmo
O poder
do fanzine não está em sua popularidade de vendas, visibilidade e presença de
críticos e críticas literárias falando sobre o assunto. O poder do fanzine está
em sua acessibilidade de produção, possibilitando um caminho para conteúdos de
caráter político e contestador, assim como no empoderamento dos e das
realizadoras. As autoras de zines, em especial, encontram nessa forma de
publicação uma independência dentro de um mercado que historicamente não está
aberto a elas.
“Zine é
comunicação pura, porque você não tá preocupado com a linha editorial ou os
anunciantes. E tem a paixão pelo que você tá publicando. Porque tem que gostar
muito do trem, pra você ficar produzindo, editando, fazendo cópias, enviando
por Correios ou criando um blog/site pra hospedar teu arquivo físico. (…) Tem
muita satisfação pessoal envolvida, tem algo a ver com acreditar no que você
quer comunicar de um jeito que você não consegue ficar com aquilo só pra você.
Se uma, dez ou cem pessoas vão ler, não importa tanto. O que interessa mesmo é
que você falou”, afirma Laíza.
A
jornalista Mayra Medeiros, fã e consumidora de zines, fez do seu Trabalho de
Conclusão de Curso uma pesquisa sobre os zines enquanto meio de comunicação
alternativa, em que estudou a produção do Comjunto, um coletivo dos estudantes
de comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Sobre o poder e as
possibilidades do zine, ela afirma “Zine é uma alavanca criativa tremenda para
quem tem vontade, mas tem receio e até de quem nem sabe que tem tanto para
escrever, tanto para compartilhar, questionar… Não existe aquele impasse de
‘não saber’ diagramar bonito, como se cobra dos produtos totalmente digitais.
Basta deixar a imaginação fluir com a colagem, a escrita e quando você menos
vê, já tá ali: pronto!”.
Sabe
aquela expressão “Do It Yourself”, o “Faça Você Mesmo” do Pinterest e do
YouTube? Então, pelo visto ela surgiu com o movimento punk e essa onda dos zines. Quem
diria, né. Mas de fato deve ser muito satisfatório realizar, em todos os níveis
de uma produção, o seu próprio material, mesmo que seja numa auto-publicação.
No site
Minas Nerds tem um post bem legal sobre zines, e um dos tópicos
fala sobre o porquê de se fazer um em tempos de internet. “Se temos blogs, redes
sociais, email, para que fazer um zine hoje em dia? Porque é muito legal poder
ter um trabalho impresso, feito do jeito que eu quero, de maneira artesanal.
Pode até ser que o que originou os zines fosse a praticidade e o baixo custo
para difundir ideias e trabalhos por aí, mas hoje a coisa está bem além disso.
Essas publicações se tornaram também objetos de arte e, muitas vezes, a maneira
de manipular seu conteúdo também faz parte da brincadeira”.
Na
Capitolina, uma ótima revista online da atualidade, tem até um passo-a-passo de como fazer
seu próprio zine, da idealização, passando pela montagem até a sua
distribuição.
Onde e como ter acesso aos zines
Se
interessou em acompanhar publicações de e sobre zines? Vamos às dicas!
Referências
em pesquisa sobre (fan)zines:
- Henrique Magalhães: Professor da UFPB com mestrado e doutorado sobre o universo dos fanzines e criador da editora independente Marca de Fantasia, com publicações de histórias em quadrinhos, artes, linguística, cultura pop e comunicação.
- Fernanda Meireles: Reconhecida especialmente em Fortaleza, Ceará, pesquisa, produz e ministra oficinas na área de fanzines há mais de dez anos. “Cidade Solar”, um diário de bordo, foi uma zine que ela lançou em 2006, semanalmente, totalizando 52 publicações. Em abril deste ano será lançado o livro “Transforme isto em outra coisa – Um percurso pelas histórias de Fernanda Meireles” da jornalista cearense Naiana Gomes, baseado na trajetória de Fernanda.
Feiras,
editoras e publicações:
- Feira Plana : Festival anual que ocorre na cidade de São Paulo há cinco edições, reúne publicações independentes nacionais e internacionais, entre zines e quadrinhos. A Feira Plana é idealizada e organizada pela jornalista Bia Bittencourt. Neste ano ela aconteceu no mês de março com o tema “Fim do Mundo”.
- Ugra Press : Uma editora, livraria e loja virtual especializada em quadrinhos e contracultura. A Ugra tem uma iniciativa massa e organiza um anuário chamado “Panorama Internacional de Zines e Publicações Independentes”, projeto que cataloga e divulga a produção impressa independente.
- Bobagens Imperdíveis : uma newsletter e um zine físico da escritora e ilustradora Aline Valek. O zine pode ser adquirido e recebido em casa através de assinatura mensal.
- Granada Zine : revista alternativa escrita e editada apenas por mulheres, abordando formatos e assuntos diferentes.
- Zine Feminista : Uma conta no Instagram dedicada ao conteúdo feminista de zines, organizada pela autora da personagem em quadrinhos Garota Siririca.
- Azul é a cor mais bad : a Dora, ilustradora aqui da Pólen, também fez zine
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